FÁBRICA ESCOLA

A firma Fábrica Escola Irmãos Stephens vem na sequência da Nacional Fábrica de Vidros, já por si herdeira da nomeada Real Fábrica dos Vidros da Marinha Grande. É a consequência do desfolhar da história da indústria vidreira na Marinha Grande ao longo dos tempos.
Foi por força do decreto-lei n.° 39840, de 4 de Outubro de 1954, que esta fábrica passaria a denominar-se Fábrica Escola Irmãos Stephens, pondo, sob a forma de lei uma série de alterações da sua estrutura.
Ficou a empresa perante uma transformação radical de métodos, adquirindo o espírito de uma escola de formação profissional para a indústria de vidros local.
Este documento impunha e exigia padrões de qualidade de melhor nível para a sua produção, o estabelecimento de acordos com as escolas de formação em Belas Artes, o que daria acesso ao desenvolvimento de uma nova cultura, em termos de criação artística na área dos vidros, para além da racionalização de todos os métodos de produção. Até então a criação artística estava entregue ao cuidado pessoal das tendências do professor Alberto Nery Capucho.
Foi a partir daí que começaram a estagiar na Marinha Grande alguns estudantes interessados na milenar indústria do vidro, como foram Maria Julieta Varanda da Cruz e Maria Manuel de Almeida Campos Soares de Oliveira, para além do surgimento de uma nova cultura criativa através das arquitetas Carmo Valente e Maria Helena Matos, que notáveis serviços prestaram a esta centenária fábrica.
Sob o controlo dos serviços externos do Instituto Nacional de Investigação Industrial, criados pelo Decreto-Lei número 42120 de 23 de Janeiro de 1959, a empresa, como património do Estado, vê reforçadas as suas responsabilidades quanto aos métodos de modernização técnica e administrativa que se impunham.
A nova legislação imposta à vidreira como Fábrica Escola, também provocaria uns conflitos de ordem laboral, muito especialmente quanto à exclusividade obrigatória dos seus trabalhadores. Como se sabe, muitos dos empregados da fábrica eram vidreiros, lapidários, pintores e outros que depois das horas normais de trabalho, faziam algum trabalho extraordinário fora da fábrica e alguns tinham mesmo pequenas oficinas de acabamentos instaladas nas suas casas ou em pequenas sociedades irregulares.
Este decreto proibia essa duplicidade laboral o que obrigou muita gente a tomar medidas corretivas na sua vida profissional. Por isso, muitos operários acabaram por se instalar de forma efetiva, surgindo novas oficinas de acabamentos na Marinha Grande, um pouco por todo o lado, o que provocou a saída de muitos trabalhadores da FEIS (Fábrica Escola Irmãos Stephens), porventura aqueles que se sentiam mais habilitados para obter sucesso numa atividade privada.
Acabou esta ação por ter um efeito muito positivo no leque empresarial marinhense que teve os seus reflexos de grande capacidade empregadora e produtiva até ao encerramento da quase totalidade das cristaleiras, o que se verificou no início do ano de 2008.
Abriram, a partir deste período, diversas empresas dedicadas ao acabamento de vidros, já organizadas de forma regular, que criaram muitos postos de trabalho. O engenheiro Acácio de Calazans Duarte foi reconduzido como administrador desta unidade depois da introdução desta e outras medidas inovadoras, até à sua aposentação, em 18 de Agosto de 1966, sendo nomeado para o substituir o engenheiro José Garcia Júnior que só tomaria posse mais tarde, a 10 de Novembro de 1967.
Esta empresa seria considerada Empresa Pública (EP) a partir de 14 de Maio de 1977 para passar a Sociedade Anónima (SA) em 1990.
Não foi de sucesso o futuro desta fábrica. Em 1992, o governo, já cansado dos elevados encargos provocados pelos contínuos prejuízos da FEIS, acabou por permitir que a força dos resultados financeiros se sobrepusesse ao valor histórico desta indústria.
Com esta política economicista do governo, aquilo que representava para os marinhenses um marco de tradição histórica e social, é entregue nas mãos de privados para exploração.
Acabou, assim, por ser vendido o património fabril à sociedade dinamarquesa Mortensen Glass, separando-se radicalmente os patrimónios histórico do fabril, em deturpação grosseira da razão de vida desta empresa durante 245 longos anos até essa data, mesmo em desrespeito direto pelo testamento de João Diogo Stephens.
A empresa dinamarquesa faliu, como era de esperar, os trabalhadores foram atirados para o desemprego e aqui o Estado foi forçado a suportar os encargos enquanto a história da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande, que nascera em 1746, pára bruscamente.
Texto de Gabriel Roldão (adaptado)