LARGO 5 DE OUTUBRO – PRIMEIRA SEDE DA LOJA MAÇÓNICA HELIODORO SALGADO

Esta "Loja" identificada pelo número 279, que era cognominada por "Resp." Loja Heliodoro Salgado da Marinha Grande, foi inaugurada no dia 17 de setembro de 1907.
Esta Loja foi instalada num antigo barracão que servira de adega da residência apalaçada do Conselheiro Joaquim Taibner de Morais, hoje Museu Joaquim Correia.
Esse pequeno edifício serviu de local de encontro secreto para um grupo de notáveis marinhenses. Inicialmente a "Loja" terá aberto com oito companheiros, tendo o número engrossado até doze elementos em 1924.

O símbolo da Loja era formado por duas penas (de escrever) cruzadas no centro de uma coroa de louros com a legenda SECR.
Circundando este símbolo, a legenda de identificação da Loja: Na fita superior "RES.´.LOJ.' HELIODORO SALGADO, N.º279". Na fita inferior podia ler-se a legenda: "Ao Val.'.DA MARINHA GRANDE".
A separar as duas legendas figuravam dois grupos de dois compassos opostos. A imagem que se mostra é a reprodução de um carimbo usado na "Loja".
O acaso da sorte abriu-se em luz. Este caso da sorte, foi alguém tropeçar, num velho sótão, onde históricos papéis abundam, numa denunciadora tábua de soalho, mal preparada propositadamente, que revelou escondida esta documentação e mais doze espadas de cerimónia, que faziam parte dos rituais maçónicos realizados naquela "Loja".

O traje usado pelo "Sublime Cavaleiro Rosa Cruz", era formado por casaca e calça preta. Como adornos, um avental de pele branca debruado a preto tendo no meio bordadas três rosetas negras e um globo com uma serpente enrolada, representando o mundo. A abeta, de seda branca, tinha pintada, ao centro, uma caveira com dois ossos e um grande J. suspenso ao pescoço e um grande escapulário, de forma triangular e em seda negra, com uma fita vermelha ao centro. Pendente do vértice, a "joia" do grau que, neste caso, era um pelicano rasgando o peito com o bico para alimentar os filhos. Nas costas do pelicano, uma águia em relevo com as asas abertas. À cintura, a espada de cerimónias.
Heliodoro Salgado, o patrono da "Loja" da Marinha Grande, era natural de S. Martinho de Bougado do concelho de Santo Tirso, nascido no dia 8 de julho de 1861. Por ter ficado órfão de pai muito novo, foi internado no Colégio dos Meninos Órfãos do Porto, onde fez instrução primária. Continuou a estudar e a trabalhar, ingressando no Magistério Primário.
Cedo se manifestou um republicano anticlerical convicto e fez parte ativa do Partido Republicano Português, revelando-se como um notável conferencista.

Aderiu à Maçonaria como membro da "Loja Elias Garcia".
Depois de concluir a sua formação académica, não encontrou grandes incentivos para prosseguir a carreira no ensino, ingressando no jornalismo, dedicação que o acompanhou até ao fim da vida.
Teve a sua estreia jornalística no jornal "O Protesto", de cariz socialista e publicado na cidade do Porto. Depois trabalhou para "O Século" no tempo de Magalhães Lima, "A Pátria" dirigida por Alves Correia, "A Batalha", "A Portuguesa", "O Alarme", "O Norte" e muitos outros. Dirigiu ainda a Biblioteca do Pensamento.
Os seus artigos de opinião valeram-lhe grandes dissabores, tendo sido castigado por grandes querelas judiciais e até preso por várias vezes, nomeadamente em 1897 e 1899, por artigos que publicou contra o regime monárquico em "A Batalha" e em "A Portuguesa". Para além desta colaboração, fez parte ainda de quase todos os jornais de cariz republicano da época. Muitas vezes escreveu sob os pseudónimos de "Ivanhoé", "Evangelho do Dia" ou "Ismael".
O seu pensamento livre permitia-lhes desenvolver apreciações, por vezes jocosas, sobre as questões "sagradas", fazendo colidir a sua opinião com o poder político e religioso.
Socialista por convicção, fez da figura humana de Jesus Cristo a imagem de mártir como iniciador da moralização da sociedade.
Na "Exposição Imprensa", levada a cabo no Ateneu Comercial de Lisboa em 1898, Heliodoro Salgado tomou parte na Comissão Organizadora de Comemoração do 5º Centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia.
Inegavelmente um socialista, demonstrou esse "atrevimento" para o tempo com elevada dedicação, brilhantismo e ousadia.
Faleceu em Lisboa no dia 12 de setembro de 1906.
Em sua memória a Loja Maçónica n.º 279 seria criada na Marinha Grande em 1907.
Texto de Gabriel Roldão (adaptado)