LARGO NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO 

Num período extremamente grave para a economia do reino, D. Manuel I (1469-1521) promove a atualização dos impostos sobre juntas de bois, produção de vinho, linho, moinhos e reguengos, madeira e lenha, navios, telhas e tijolos, obra de vidro, resina, alcatrão e muitas outras produções. Determina ao mesmo tempo os termos de limite, entre outros, do Foral de Leiria para efeito de cobrança das receitas devidas ao estado. Na descrição contida no documento poder ler-se:

"...e vay per elle e des hi saisse delle e vaisse a condesseira, e des hi a húma cabeça que chamam de mel e manteiga que esta a par da cabeça dalcugulhe descôtra Leiria. E des hi pella marinha, e vaisse ao Ribeiro daqué damor e vaisse meter no Rio dulmar.. Ao primeiro dia de mayo Do nascimento de nosso Senhor Jehsu Christo de mil quinhentos e dez."

No primeiro censo mandado fazer por D. João III em 1527, a que se chamava

"numeramento da população", descrevendo os termos da vila de Leiria, eram citadas na zona três "Marinhas": Casal da Marinha associado a Val da Gunha, aldeia da Marinha a Álvaro Gil e casais da Marinha e Santa Maria de Leiria. Depreende-se, portanto, que fossem três lugares distintos para os quais são referidos número de vizinhos diferentes também. Certo será que dos três lugares citados, dois corresponderão às atuais Marinha Grande e ao lugar da Marinha Pequena. Segundo a opinião escrita pelo dr. José Custódio Morais no boletim da Universidade de Coimbra, a Marinha Grande poderá ter as suas origens entre os séculos XI e XII e que teria sido fundada por povos que vieram para esta zona explorar a produção de sal.

Crê-se, entretanto, que a fixação das primeiras famílias na Marinha teve como objetivo principal o trabalho florestal, fixando as suas casas de residência junto à orla do Pinhal de Leiria, ao longo da Vala Real, das Gaeiras até Pedreanes. Desse facto, nos dão conta vários relatos por onde se sabe serem obrigados os couteiros do pinhal a habitarem perto do pinhal, para mais facilmente cumprirem as obrigações que lhes eram impostas quanto ao socorro a eventuais fogos.

Em 1590, os moradores dos lugares da Marinha e da Garcia fizeram uma petição ao bispo de Leiria, D. Pedro de Castilho, para que fosse autorizada a celebração da missa numa pequena ermida que tinham erigido em honra de Nossa Senhora do Rosário. Dez anos depois, em 1600, convertida em paróquia a Marinha, foi elevada a freguesia, retirada da freguesia de S. Thiago do Arrabal da Ponte a que pertencia.

A transferência da indústria vidreira de Coina para a Marinha Grande, em 1748. veio criar um grande desenvolvimento na freguesia que, até então, tinha experimentado um crescimento muito lento. Foi a partir desse momento que se estabeleceram, na zona chamada de centro, onde começaram a habitar, os operários vidreiros vindos de Coina, alguns dos quais de origem estrangeira.

No período das invasões francesas de 1810, a Marinha Grande teve uma dura recessão. Sofreu a vila 74 mortos nas refegas e foram mais de 100 os habitantes que buscaram refúgio noutros locais, esvaziando o ritmo de crescimento demográfico da freguesia. A Marinha Grande tinha sido quase totalmente destruída pelos franceses, a fábrica de vidros queimada, também o pinhal sofreria semelhante ataque e até os livros dos assentos paroquiais foram destruídos, apagando a memória familiar deste povo. Mais tarde, a peste dizimou nestas paragens cerca de 879 criaturas, provocando estes acontecimentos uma regressão no desenvolvimento local.

Em 1892, a Marinha Grande foi elevada à categoria de vila e, a sede de concelho, a partir de 26 de Março de 1917, com as freguesias da Marinha Grande e Vieira de Leiria, depois de prolongada luta movida por várias comissões das forças vivas da vila, que sempre se rebelaram contra a dissolução do concelho que, pela primeira vez, tinha sido formado por decreto de 6 de Novembro de 1836. Nessa altura, englobava as freguesias da Vieira, Carvide, Monte Real e Maceira, todas anexadas do concelho de Leiria.

A partir de 1870, começará a verificar-se um desenvolvimento industrial muito importante com o aparecimento de novas fábricas de vidros que, em 1912, eram já 8 unidades. A fábrica de John Beare, sendo a primeira indústria de vidros depois seguida por Guilherme Stephens, promoveu uma escola de formação de trabalhadores e futuros industriais que, após o falecimento dos irmãos ingleses, ofereceram à vila um surto de desenvolvimento muito apreciável. Esse facto reflete-se também na explosão demográfica verificada, apesar das contrariedades provocadas por diversas doenças epidémicas que assolaram a Marinha Grande no início do século XX.

Mas nem sempre a evolução e o crescimento são contínuos, porque as guerras mundiais entre a primeira e quarta décadas do século XX foram duros obstáculos a ultrapassar. A grande crise social que a Marinha Grande enfrentou entre 1929 e 1934, com a miséria instalada nas famílias, graves foram os conflitos laborais que assolaram a vila e que tiveram o ponto mais alto no dia 18 de Janeiro de 1934, com um levantamento popular armado. Nos anos que se seguiram, embora a população fosse aumentando, o certo é que os períodos de crise e desemprego eram quase contínuos e só por intervenção do Administrador do Pinhal de Leiria, Eng. Arala Pinto, muitos se salvaram da fome, embora vergados ao trabalho no Pinhal de Leiria ou na construção da rede de estradas que servem a floresta.

Em meados dos anos 40, surge a inovadora indústria de moldes, inicialmente para vidros e, depois, para a moderna indústria de plásticos. A par das indústrias de cerâmica de construção civil que já tinham tradição velha na Marinha Grande, assim como a proliferação das serrações de madeiras, a estabilidade económica na vila foi tendo um maior equilíbrio.

Após a Segunda Grande Guerra Mundial, as fábricas de vidros surgiam por todo o lado, ao mesmo tempo que iam falindo umas e abrindo outras. O desenvolvimento tecnológico, que então se processou com maior rapidez, trouxe à Marinha Grande uma diversidade de novas indústrias que se dedicaram à produção de plásticos e moldes

Também esse progresso acrescentou à indústria de vidro o acompanhamento dos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos como foi, na altura, a automatização da indústria garrafeira. Este progresso vem transformar radicalmente a imagem quase familiar da população da Marinha Grande, onde todos estavam habituados a ser primos de todos.

A chegada de novas indústrias também arrastou para a Marinha Grande uma população de novos operários, oriundos das mais diversas regiões do país, que aqui buscavam a facilidade de emprego, que escasseava nas suas terras de origem. A população descaracteriza-se e a Marinha Grande transforma-se, digamos que rapidamente, a roçar o cosmopolitismo.

Durante o mandato camarário de Victor Amaro Salgueiro dos Santos Gallo, a Marinha Grande experimentou um grande desenvolvimento, muito especialmente quanto ao crescimento urbano. A construção de uma nova via de escoamento de trânsito foi a mais importante obra jamais construída na Marinha Grande pelos efeitos provocados. A sul da urbe, pouco era o casario que havia edificado para além das linhas que marginam a Av. Conde de Azarujinha até à estação do caminho-de-ferro e aos lugares que se seguiam até Picassinos e Comeira. Também, no prosseguimento da estrada para a Nazaré,os aglomerados da Ordem e da Amieirinha foram crescendo. A construção desta avenida, em 1953, que mereceu o nome de Victor Gallo, teve ainda a virtude de abrir os caminhos para o desenvolvimento urbanístico para sul, que foi ocupando as vastas áreas de terrenos do Casal de Malta.

O trânsito de toda a espécie de veículos fazia-se, até então, com ponto de entroncamento na Praça Guilherme Stephens, onde se voltava para subir a Rua Marquês de Pombal e, depois, tomar a antiga Rua Rafael Duque, em direção a Leiria. No sentido inverso, o trânsito do Jardim do Passal seguia em direção ao Largo D. Dinis e daí percorria toda a Rua Machado dos Santos para entrar de novo na Praça Guilherme Stephens. Com o desenvolvimento contínuo da vila, esta área passou a sofrer um contínuo congestionamento com trânsito de toda a ordem, como camionetas de carga e de passageiros, carros puxados por animais, que ainda circulavam muitos na vila, ondas de bicicletas e todo o trânsito automóvel que entrava ou saía da Marinha Grande que se fazia por esta duas artérias, criando um autêntico caos.

Após o 25 de Abril de 1974, a autarquia passou a dispor de novos instrumentos de autonomia financeira, assim como o desenvolvimento industrial e comercial cresceu de tal forma que atualmente o crescimento urbano e demográfico concedem ao concelho o estatuto de um dos mais importantes do país, em termos económicos.

Através da Lei 38/88 de 19 de Abril, a Marinha Grande foi elevada à categoria de cidade, facto que foi aprovado na sessão da Assembleia da República de 11 de Março deste ano.

Hoje, a Marinha Grande dispõe de duas grandes zonas industriais, a do Casal da Lebre e a da Marinha Pequena, que albergam muitas dezenas de empresas industriais. A característica dominante na indústria da Marinha Grande continua sendo a dos vidros, com especial relevo para a indústria de embalagens. Porém, a fulgurante indústria de moldes, com centenas de empresas, parece ser muito mais importante nos aspetos económicos, nomeadamente pela sua natural caraterística exportadora.

Outras indústrias oferecem um positivo impacto no emprego e na produção de bens e serviços, como as indústrias de plásticos, artigos elétricos, embalagens de cartão, borracha para pneumáticos ou móveis, para além de outros sectores menos representativos. O comércio chamado de tradicional, tem demonstrado algumas dificuldades de adaptação ao crescente desenvolvimento económico da região. Os progressos nesta área não têm acompanhado as outras atividades e grande parte da economia produzida no concelho é geralmente consumida no comércio, bem mais forte, na vizinha Leiria.

Refira-se, entretanto, a expansão comercial em áreas de apoio às indústrias instaladas

como a de informática, serviços ou ferramentas, que se desenvolvem a bom ritmo.

Este é o panorama do desenvolvimento social e económico que transformou a velha freguesia de Nossa Senhora do Rosário da Marinha naquilo que é hoje a cidade da Marinha Grande.

Texto de Gabriel Roldão (adaptado)


Create your website for free! This website was made with Webnode. Create your own for free today! Get started