PRACETA ENGENHEIRO CALAZANS DUARTE
A atribuição do topónimo desta Praça no antigo Casal do Malta, mesmo no local onde o Engº Acácio Calazans Duarte residia. Em Aljezur, nasceu Acácio Calazans Duarte, a 15 de fevereiro de 1889. Dotado de notória capacidade, licenciou-se em Engenharia Química. Doutorou-se em Ciências Físico-Química, na Suíça. Quando regressou a Portugal assumiu o cargo de Secretário do Ministro do Comércio e Comunicações. Foi colocado na região de Umbelezi (Moçambique) durante 3 anos.
Quando regressou a Portugal foi colocado na Escola Afonso Domingues, em Lisboa, onde conheceu o Professor Alberto Nery Capucho.
A Nacional Fábrica de Vidros, invadida por grave crise económica e de gestão, motivada pelos arrendamentos sucessivos que instalaram a ruína, parecia não ter mais solução de futuro. O Estado recorreu ao Eng. Calazans Duarte, graças ao importante trabalho de gestão que tinha realizado em funções anteriores, que aceitou vir para uma pequena vila da província, desprovida das comodidades citadinas.
A 27 de Junho de 1924, Calazans Duarte assume a administração da fábrica, que recebe em situação degradante, mas, com a eficácia, competência e o elevado sentido de justiça que imprime ao seu trabalho, consegue, ao fim dos primeiros anos de luta, recuperar a Nacional de forma satisfatória, não só para o Estado como para os trabalhadores. É certo que durante os 42 anos em que assumiu essas responsabilidades de gestão da Nacional Fábrica de Vidros, muitos e graves problemas teve que enfrentar, sendo obrigado, por vezes, a tomar posições contrárias aos desígnios do Estado. Podemos mesmo dizer que, muitas vezes, a coragem se impunha para se colocar em defesa dos trabalhadores e resolver graves problemas, como foram os históricos acontecimentos da madrugada de 18 de Janeiro de 1934 ou a tentativa de encerramento da fábrica em 1931, acusada a empresa de consumo desregrado das lenhas que recebia do Pinhal de Leiria.
Como professor, na Marinha Grande, o Eng. Acácio de Calazans Duarte, exerceu a atividade com muita intensidade. Para além de ter criado uma Escola Primária, nas instalações da fábrica, para os trabalhadores, foi professor de Físico-Química durante mais de 40 anos, na Escola Industrial e Comercial da Marinha Grande, instituição que ainda hoje ostenta o seu nome. Com a inauguração do Colégio Dr. Afonso Lopes Vieira, em 13 de Julho de 1947, passou também ali a lecionar a cadeira da sua formação curricular.
A população da Marinha Grande respeitou sempre a postura deste singular homem, que, não sendo natural desta terra, cedo se apaixonou por ela e pelas suas gentes. Personalidade de forte carácter, sempre cautelosamente atento aos problemas da "sua" Nacional, conseguiu restabelecer a estabilidade de trabalho e a harmonia entre os trabalhadores, ao mesmo tempo que procedia ao restauro e modificação dos meios de produção, modernizando a empresa de forma a obter melhor qualidade e maiores produções.
Rodeado por uma tertúlia muito reduzida, tinha ociosas paixões que, quase religiosamente, cumpria: Fumar gigantescos "havanos", e jogar a partidinha de "King", no atelier de desenho do Professor Capucho.
Nascido naquela terra algarvia, viria a falecer no dia 31 de Maio de 1970 este notável democrata, na Marinha Grande, onde está sepultado.
Esta terra ficou a dever a este filho adotivo muito da sua pujança industrial e só com a sua enorme capacidade profissional e paciência, se conseguiria levar a cabo. uma tarefa de possível estabilidade dentro dos muros daquela centenária fábrica, tão fustigada e espoliada por interesses passageiros dos muitos rendeiros que por ali passaram ao longo de mais de um século.
Para a cultura da Marinha Grande, Acácio de Calazans Duarte deixou uma obra muito valiosa, só parcialmente publicada. Os jornais da época noticiavam regularmente as conferências que, ao longo da vida, foi fazendo com regularidade, das quais só algumas seriam passadas para pequenas brochuras.
Entre os seus trabalhos, merecem especial citação "A Crise Vidreira I", de 1932, e a "Crise Vidreira II" do ano seguinte, que pretende dar uma resposta em forma aos ataques que o Eng.° António Arala Pinto lhe deferiu, na qualidade de Chefe da 3.ª Circunscrição Florestal e de membro da Comissão Consultiva da Nacional Fábrica de Vidros.
Publicou ainda "O Monumento a Guilherme Stephens", em 1943, "A Indústria Vidreira- Aspetos Gerais", em 1944, e "A Indústria de Moldes na Marinha Grande", em 1969.
Cerca de 46 anos da vida de Acácio de Calazans Duarte foram passados na Marinha Grande e não podem caber neste espaço.
Texto de Gabriel Roldão (adaptado)
