RUA DIOGO STEPHENS

João Diogo Stephens (John James) nasceu no condado de Devon (Inglaterra) na cidade de Exeter, em 29 de Janeiro de 1748.

Irmão de Guilherme Stephens e mais novo do que este 17 anos, só o conheceu em Abril de 1762, quando chegou a Lisboa, depois de ter passado a infância num internato, como órfão indigente no Crist's Hospital em Londres. A mãe tinha falecido em 1755 e, sem pai que morreu antes, em 1752, todos os irmãos, à exceção de Guilherme, que já se encontrava em Lisboa desde 1746, ficaram aos cuidados da família ou internados em orfanatos.

Em 1757, quando Guilherme soube que o irmão João Diogo tinha terminado o período de internamento, tratou de o mandar vir para Lisboa e foi com surpresa que, ao ir esperá-lo ao barco, se deparou com todos os outros irmãos que vinham recambiados da família que os tinha albergado.

Foi assim que o grupo se encontrou pela primeira vez junto, decorria Abril de 1762. Eram os seus nomes Lewis (Luís), Jedidiah (Jedá), Filadélfia, John James (João Diogo) e Guilherme Stephens.

Dadas as grandes dificuldades que Lisboa atravessava naquele período, ainda quase totalmente destruída pelo terramoto de 1755, e estando Guilherme com graves problemas financeiros com o seu negócio de fabricação de cal em Alcântara, só a caridade de alguns amigos lhes valeria na sobrevivência durante os dois longos anos que se seguiram. Já com alguma experiência na atividade comercial, João Diogo passou a ser membro da Feitoria Inglesa de Lisboa em 12 de Dezembro de 1776. É aqui que se torna uma figura muito respeitada no meio de negócios de Lisboa.

No ano seguinte, em 1777, João Diogo Stephens entra como sócio do seu irmão Guilherme na Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande e, em reconhecimento pela sua capacidade e experiência, passa a ser representante comercial da Real Fábrica de Vidros em Lisboa. Embora muito jovem, João demonstrava raras qualidades como administrador comercial.

Na Marinha Grande, no palácio da fábrica, vivia já a irmã Filadélfia que, enquanto residiu em Lisboa, se tornou amiga e confidente da Marquesa de Pombal.

Dono de grande habilidade para os negócios, João Diogo vai adquirindo vultosas quantidades de ações especialmente de companhias inglesas, como foi o caso da Companhia Unida de Negociantes de Inglaterra, Consolidated and Reduced Annuites London Dock Bank, East India Stock, Globe Insurance & Co., entre outras.

João Diogo, que não casou, não iria ter descendentes. Tratava-se de uma personalidade de raras qualidades sociais, sempre preocupado com as dificuldades dos outros e exemplos se podem contar da sua disponibilidade benemérita. Gratificava-se a si próprio com a felicidade de dar aos outros o essencial para sobreviverem em períodos de grande crise social e económica como foi o ano de 1801, chega mesmo a importar enormes quantidades de milho que distribuía graciosamente pelo povo.

Foi ainda pela sua mão que se fez a implementação do teatro na Marinha Grande. Do mesmo modo, criou as vertentes das primeiras letras, do desenho e de outros saberes aplicados à indústria vidreira, numa escola instalada no interior da Real.

Após o falecimento de seu irmão Guilherme em 1802, João tornou-se o único herdeiro universal e legatário de todos os seus bens.

Em 13 de janeiro de 1807, João Diogo Stephens foi preso pelas tropas francesas comandadas por Junot, que invadiram Portugal. Era acusado de não ter pago uma suposta dívida de impostos. Esteve, por isso, em cativeiro durante quatro meses e onze dias. Libertado condicionalmente em 24 de Maio desse mesmo ano com obrigação de se apresentar às autoridades francesas de 15 em 15 dias.

João Diogo, depois de libertado, iria encontrar a fábrica terrivelmente vandalizada, após ter sido ocupada pelos franceses no dia 7 de Dezembro de 1807, facto que ocorreu quando foi reconduzido, em 14 de Setembro de 1808, no cargo de Administrador da fábrica. Todos os privilégios de que vinha dispondo na Real tinham sido anulados e, só a 5 de Março de 1811, conseguiu obter a sua prorrogação por mais vinte anos.

Sem desfalecimentos, João Diogo retoma a administração da fábrica com o mesmo entusiasmo, depois do desastre provocado pelas invasões francesas. Porém, as dificuldades a ultrapassar foram enormes, não só porque grande parte dos operários tinha desertado para Lisboa, empregando-se na nova fábrica de Feliciano Xavier Fernandes Nogueira, (Nogueira & Companhia), instalada na Rua Flor da Murta, mas também porque as obras de recuperação e restauro de edifícios e equipamentos fabris foram demoradas e de elevados custos, provocando no seu pecúlio grande distúrbio.

João Diogo Stephens optava por administrar a fábrica à distância, a partir de Lisboa, através de correspondência trocada com o administrador residente José de Sousa e Oliveira. Foram muitas centenas de cartas trocadas o que, manifestamente, atrasava todos os processos de decisão pelo longo período de tempo necessário para o trânsito dessa correspondência. Mas, mesmo assim, os assuntos fluíam com sucesso, devendo-se a isso à elevada capacidade administrativa de José de Sousa e Oliveira.

Com o aproximar do fim da vida, João Diogo decidiu mandar redigir o seu testamento, em 24 de Maio de 1824. Viria a falecer em Lisboa a 12 de Novembro de 1826, terminando assim a dinastia Stephens à frente dos destinos da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande.

Após a sua morte, o testamento é aberto e lido.

Contrariando uma das partes fundamentais do seu testamento, João Diogo Stephens não seria sepultado junto do corpo de seu irmão Guilherme. Foi sepultado junto do irmão Luís que se encontrava já enterrado no Cemitério dos Ingleses em Lisboa, num mausoléu mandado erigir pelo primo de ambos, Charles Lyne Stephens.

Para a história, o período que se seguiu após a morte de João Diogo Stephens foi regularmente conturbado, cheio de crises da mais variada ordem, com arrendamentos que se sucederam em desastres financeiros quase sempre ao mesmo ritmo. Foram 170 anos plenos de incerteza e de grande sofrimento e angústia para os seus operários e para a Marinha Grande.

Texto de Gabriel Roldão (adaptado)

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