TEATRO STEPHENS

O aparecimento do Teatro Popular na Marinha Grande poderá situar-se como a primeira sala de espetáculos aqui erigida por vontade de Guilherme Stephens, logo após a entrada em percurso normal de trabalho da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande, depois do início da laboração em 1769 e, muito provavelmente, no ano de 1785.

Nesse teatro que sobreviveu até 1935, embora vandalizado e parcialmente destruído em 1810, quando das invasões francesas, teriam sido representadas várias peças, assim como espetáculos musicais. A primeira peça que se sabe ter sido apresentada nesta sala foi de autoria do poeta, dramaturgo, ensaísta e filósofo francês, François Marie Arrouet (1694-1778), mais conhecido pelo pseudónimo de "Voltaire".

Logo após o terramoto de 1755, Voltaire, que se tinha dedicado a uma vida de viajante a "errar" pela Europa, vem a Lisboa observar os efeitos do desastre, sendo recebido pelo Ministro do Reino.

Guilherme Stephens, conhece, entretanto, o filósofo por aproximação ao Marquês e estabelece algumas amizades.

O dramaturgo Voltaire dedica-se em 1763, já no final da vida, a escrever a peça dramática denominada "Olympia", influenciado pela catástrofe de Lisboa que acaba de observar. Esse facto terá servido para longos diálogos sobre teatro, em aproveitamento dos conhecimentos culturais de Guilherme Stephens. O manuscrito de "Olympia" terá sido oferecido a Guilherme Stephens que o mandará representar mais tarde, já depois da morte de Voltaire, em aproveitamento do teatro que mandara instalar na sua Fábrica de Vidros.

"Olympia" é representada na inauguração desta sala, representada por trabalhadores vidreiros, em data que não se precisa. Segundo o grande comediógrafo do século XVII, Nicolau Luís da Silva (N. Lisboa, 1723-F. Lisboa, 1787) que foi diretor do histórico Teatro do Bairro Alto em Lisboa. A peça de Voltaire foi por si traduzida para português e entregue a Guilherme Stephens no ano de 1785. Nesse mesmo documento de tradução, pode ler-se que Nicolau Luís da Silva se referia já ao elevado nível da representação da peça por parte dos rapazes que a representaram, que considerava dignos dos atores de profissão.

Nos anos que se seguiram, vários foram os grupos que se deslocaram à Marinha Grande para representar.

A atividade teatral amadora teve, durante determinadas épocas, uma forte implantação na freguesia da Marinha Grande. Nos tempos em que os meios de comunicação social eram rudimentares, com dificuldade de acesso aos grandes centros culturais, a população dedicava-se à prática regular da representação teatral, normalmente utilizando textos com temas localizados na tradição, nas coisas, ou nos factos ocorridos na sua área social. Estes momentos eram sempre aproveitados para transmitir mensagens de crítica, escárnio ou maldizer, que não raras vezes provocavam a ira e originaram atritos.

Em termos de investigação, não é seguramente difícil concluir que o Teatro Amador se terá iniciado na Marinha Grande após a inauguração do Teatro Stephens na sua forma primitiva, mandado construir por Guilherme Stephens.

É bem possível que a primeira experiência artística dos vidreiros da Real Fábrica se tivesse expandido pelas gerações futuras porque, no último ano do século XIX, desabrocha dessa mesma fábrica a organização da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Marinha Grande que, no ano seguinte e início do século XX, estabelece condições para a criação do seu Grupo Cénico, que começa a representar várias peças dramáticas no pioneiro Teatro Stephens.

Texto de Gabriel Roldão (adaptado)

Create your website for free! This website was made with Webnode. Create your own for free today! Get started